UMA exposição de Manuela Costa Lima

Curadoria de fernando mota

QUADRA GALERIA, São Paulo, 2021

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“Essa vida é uma mistura de algo puramente fantástico, calidamente ideal e, ao mesmo tempo, palidamente prosaico e comum, para não dizer vulgar até o inverossímil."

Fyodor Dostoevsky - Noites Brancas

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A exposição Noites Brancas, individual de Manuela Costa Lima, surge após uma serie de diálogos da artista com o curador Fernando Mota acerca dos cruzamentos entre arte contemporânea, urbanismo, literatura russa e religião. Em síntese, a mostra gira em torno das mais variadas formas de interpretação da iluminação por essência

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Inicialmente, o propósito era expor um recorte recente da produção da artista, porem, analisando os trabalhos e conversando a respeito de suas origens em uma visita de atelie, a prosa evoluiu para um campo interdisciplinar muito alem das artes visuais, onde o conteúdo, a forma e o conceito da mostra misturam diversas linguagens plásticas e poéticas enquanto apresentação teórica e empírica desses recentes debates, nos quais percebemos a luz como meio, motivo, medida e matéria.

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Noites Brancas é composta sobretudo por um conjunto de presenças: o grupo central de sete esculturas cujos nomes aludem a historias e estórias russas, duas series de estudos que mesclam escritos e desenhos dessas mesmas personagens de natureza híbrida artística-literária, e ainda, certos objetos “infiltrados” pontualmente na narrativa e no espaço expositivo - incluindo uma intervenção direta na fachada do edifício e outra interna no quadro de eletricidade da galeria, ambas literal e metaforicamente lançando uma luz na origem e no resultado de nossas próprias luzes, dentro e fora de nossas casas.

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A exposição esta alicerçada em uma triangulação entre espaço, narrativa e linguagem. O espaço determinou não apenas a montagem das obras e a realização de trabalhos pensados especificamente para a galeria, como também foi a pedra angular do principal experimento da mostra: ilumina-la de dentro para fora, ou na prática, inverter a lógica de iluminação convencional - ao invés das obras serem iluminadas pelas luzes do local, são elas próprias que iluminam toda a galeria, não há nenhuma luz auxiliar acesa. A narrativa perpassa alguns romances russos, em especial obras essenciais de Fyodor Dostoevsky: seja através dos títulos ou das posições dos trabalhos nos ambientes, a literatura desse grande mestre e os sentimentos e reflexões que emergem dela conduzem a mostra por uma via alem da estética, na qual nos encontramos com personagens e situações dos clássicos O Idiota, Crime e Castigo, Os Irmãos Karamazov, Memórias do Subsolo, e claro, Noites Brancas. A linguagem é a maneira que escrevemos essa historia no papel em branco, é através dos materiais, das formas e dos diálogos entre as obras que estabelecemos a relação literatura-arte-arquitetura.

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O fenômeno natural das “noites brancas” ocorre nas semanas próximas ao solstício de verão do norte da Russia, e em termos científicos representa o chamado crepúsculo civil – quando o sol não se põe por completo, permanecendo por algumas horas atrás do horizonte antes de nascer novamente, de forma que não há escuridão absoluta. Logo, a noite se funde ao dia, e por conseqüência, a percepção atmosférica afeta temporariamente o comportamento e as dinâmicas da sociedade local. No contexto em que a exposição foi apresentada, durante uma pandemia, as noites brancas se tornam uma alegoria de clareza e esperança após dias tão escuros. Ao final, numa nota filosófica dostoevskyana: a iluminação antecede a tormenta, ou seria a ordem dos fatores reversa, a tormenta é a causa e o caminho para a iluminação?

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WHITE NIGHTS

 

An exhibition by Manuela Costa Lima

Curated by Fernando Mota

Quadra, São Paulo, 07.10.2021 – 08.14.2021

 

“That life is a mixture of something purely fantastic, fervently ideal, with something dingily prosaic and ordinary, not to say incredibly vulgar.”

 

Fyodor Dostoevsky 

White Nights

 

The exhibition Noites Brancas [White Nights], a solo show by Manuela Costa Lima, comes after a series of dialogues between the artist and curator Fernando Mota about the intersections between contemporary art, urbanism, Russian literature and religion. In summary, the show revolves around the most varied forms of interpretation of lighting by essence.

 

Initially, the purpose was to expose a recent clipping of the artist's production, however, analyzing the works and talking about their origins in a studio visit, the prose evolved into an interdisciplinary field far beyond the visual arts, where the content, form and concept of the show mix different plastic and poetic languages as a theoretical and empirical presentation of these recent debates, in which we perceive light as a means, motive, measure and matter.

 

Noites Brancas is composed mainly of a set of presences: the central group of seven sculptures whose names allude to Russian histories and stories, two series of studies that mix writings and drawings of these same characters of a hybrid artistic-literary nature, and also, certain objects promptly “infiltrated” in the narrative and exhibition space – including a direct intervention on the building’s facade and an internal one on the gallery’s electricity switchboard, both literally and metaphorically shedding light on the origin and result of our own lights, inside and outside our houses.

 

The exhibition is based on a triangulation between space, narrative and language. The space determined not only the assembly of the works and the realization of works designed specifically for the gallery, but was also the cornerstone of the main experiment of the show: lighting it from the inside out, or, in practice, inverting the logic of conventional lighting – instead of the works being illuminated by the internal spotlights, they are the ones that illuminate the entire gallery, there is no auxiliary light. The narrative runs through certain Russian novels, especially essential works by Fyodor Dostoevsky: whether through the titles or the positions of the works in the environments, the literature of this great master and the feelings and reflections that emerge from it lead the exhibition along a path beyond aesthetics, in which we meet characters and situations from the classics The Idiot, Crime and Punishment, The Brothers Karamazov, Notes from Underground, and of course, White Nights. Language is the way we write this story on blank paper, it is through the materials, shapes and dialogues between the works that we establish the literature-art-architecture relationship.

 

The natural phenomenon of "white nights" occurs in the weeks close to the summer solstice in northern Russia, and in scientific terms it represents the so-called civil twilight – when the sun does not set completely, remaining for a few hours behind the horizon before rising again, so that there is no absolute darkness. Soon, the night merges with the day, and consequently, the atmospheric perception temporarily affects the behavior and dynamics of the local society. In the context in which the exhibition was presented, during a pandemic, the white nights become an allegory of clarity and hope after such dark days. In the end, a dostoevskyan philosophical note: does enlightenment precede the storm, or would the order of factors be reversed, is the storm the cause and the path to enlightenment?