top of page

TEXTOS/ESSAYS > NINO CAIS

NOVOS CAMPOS PARA CAIS

Quem conhece minimamente a obra de Nino Cais sabe que o artista é fascinado por objetos, vestuário e fotografias antigas. Além das fotografias conhecidas do artista, nas quais ele cria e se transforma em personagens em ambientes fictícios que ele mesmo compõe, uma das vertentes mais fortes em sua obra é o uso de recortes e colagens, a transformação de itens apropriados em imagens com novos significado, uma reorganização de ideias por assim dizer.

Em séries mais recentes, o artista tem aplicado uma técnica manualmente oposta à colagem, na qual desgasta partes da imagem original através de uma raspagem na superfície do papel, uma espécie de “depilação”, como o próprio artista se refere.

 

Um exemplo disso é a série de dípticos com fotos de hipismo e paisagens, exposta atualmente na Arte Hall em São Paulo. São trabalhos que trazem a linguagem tradicional do artista de apropriação e interferência, porém ele altera a imagem sem acrescentar algo novo, apenas retirando e transformando a matéria-prima. Em todas as composições é possível perceber a intenção dos personagens das fotos em saltar para um outro campo, pulando barreiras físicas e enfim chegando ao outro lado, que seria uma paisagem completamente distinta emoldurada ao lado. Não podemos ver quem são os homens montados nos cavalos, já que é nessa parte que o artista interfere com suas raspagens em faixas horizontais, nem situá-los com precisão no tempo ou espaço, talvez essas sejam algumas das barreiras que o artista visualmente nos coloca e desafia a atravessar. Próximo à essa série estão fotografias em preto e branco de toureiros, cada uma com uma interferência pintada de uma cor. Completando a exposição, um vídeo no qual Nino está vestido inteiramente de preto com roupa de hipismo, sentado em uma cadeira num ambiente branco, tamborilando com as palmas das mãos sobre as coxas, fazendo barulhos similares à trotes de cavalos. O artista traz com essas duas séries e o vídeo um olhar sobre atividades tradicionais que relacionam o animal e o homem, e também sobre o ritual cerimonioso de cada uma, incluindo suas roupas e acessórios.

Sem perder a identidade que vem construindo em sua obra, Nino Cais apresenta nesses novos trabalhos uma outra possibilidade de manipular imagens, ainda se relacionando com um universo fictício em paralelo e desconstruindo, ou melhor, reconstruindo narrativas. A teatralidade amadurece junto com sua precisão “cirúrgica” no lado plástico das obras, onde o artista explora novos campos com sua ja conhecida linguagem e estética.

CLIQUE NA CAPA PARA VER O artigo EM PDF

texto escrito para a revista dasartes, ediçÃo n. 47, abril de 2016

bottom of page