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DIAMANTE-GRAFITE-CARVÃO / DIAMOND-GRAPHITE-COAL

Galeria Karla Osorio: com Bené Fonteles, José Ivacy, Rodrigo Garcia Dutra Portas Vilaseca Galeria: Felipe Seixas, Íris Helena, Raquel Nava
Sé Galeria: com Brisa Noronha, Daniel Fagus Kairoz, Denise Alves-Rodrigues

Espaço Fonte, São Paulo, 2021

“Nada existe de permanente, exceto a mudança.”

Heráclito de Éfeso

Consideremos de inicio, simplificando a grosso modo, a seguinte progressão mineral na natureza: diamante - grafite - carvão. O primeiro e o segundo compostos unicamente de átomos de um único elemento, fenômenos derivados da alotropia do carbono. Os arranjos de suas estruturas moleculares distintas diferenciam um mineral do outro - um detalhe invisível a olho nu que muda por completo o resultado final e define os estados físicos de ambos. Enquanto o diamante é um isolador elétrico, abrasivo, notoriamente uma das formas mais rígidas e transparentes do planeta, a grafite serve como condutor elétrico e prevalece como um elemento lubrificante natural, opaco, de extrema flexibilidade. O carvão, por sua vez, não é formado apenas por carbono, sua composição deriva também de outros elementos químicos advindos da longa decomposição de resíduos vegetais. As variações possíveis na formação do carvão, sob determinada temperatura e pressão, podem resultar na concepção da grafite. Daí, indiretamente, surge a ideia equivocada de que o diamante é um carvão que “deu certo”. A hipotética sugerida aqui segue a premissa de que, a partir do carbono, dadas as condições naturais necessárias, temos um constante espectro em potencial entre esses três elementos, um estado continuum de transformação da matéria; consequentemente, no campo sensorial, é aberto um prisma exponencial de percepções de texturas, cores e luz, ou ainda, aludindo à sociedade contemporânea, uma vasta gama de forma, uso e valor.

Baseada nessa prerrogativa, a exposição Diamante-Grafite-Carvão trata de assuntos atemporais, operando como um laboratório de estudos para uma tradução artística experimental do universo químico e geológico em questão. São nove artistas, de três galerias originais de três estados brasileiros; no contexto expográfico, são apresentadas obras de pesquisas e linguagens variadas que traçam paralelos entre si, evocando metáforas visuais e conceituais a partir da correlação existente entre os três minerais. A relação entre as obras dos artistas abre caminhos para várias formas de interpretação: ora uma leitura mais plástica ligada à materialidade, à estética e à formação, ora relacionada à disposição dos trabalhos no espaço e ao dialogo presente entre eles, sendo possível levar tanto para um lado mais abstrato, adentrando um campo de ideias amplo e impermanente, quanto para uma analise física e sensorial; em ambos os casos é uma mostra em constante transformação.

Podemos ler a exposição, senti-la, e/ou imagina-la. A primeira via traz as informações técnicas das obras como principal suporte de aproximação do conteúdo: de que materiais são feitos os trabalhos, de onde vieram, como se comportam e o que esta por trás da pesquisa de cada um deles. A segunda via é uma aposta no instinto natural e nos sentidos humanos: visualizamos as obras no espaço e supostamente conhecemos as matérias que as formam, suas características físicas, sabemos instintivamente como são conhecidas ao toque, os sons e ate os cheiros que propagam. A terceira via é através da capacidade cognitiva e criativa de cada um: como aquelas obras se comunicam entre elas e com o espaço, quais os sinais que encontramos repetidamente,

e mais importante ainda, o que esta presente mesmo na pratica estando ausente. Dito isso, vamos à caminhada, seja ela por qualquer uma das trilhas...

Alguns trabalhos são antagônicos na própria composição. As duas obras de Brisa Noronha têm essa característica: Arqueologia Sintropica é uma serie de pequenas formas físicas irregulares feitas de uma mistura de gesso, terra e pó de cobre alinhadas cuidadosamente em uma mesa, como objetos resgatados de alguma escavação, ou ainda, restos de asteróides caídos na superfície terrestre; Lasquinhas traz outra organização cartesiana de formas orgânicas, porem dessa vez direto na parede, cada uma das mais de cem “lascas” de porcelana e grafite colorido pendurada em um prego, numa sutil sequencia cromática. Nas duas temos um grupo de pequenas estruturas frágeis formando uma outra maior, angular e imponente no espaço. Uma tentativa de ordenar e categorizar uma microsfera do caos universal. Na parede próxima à mesa encontram-se quatro esculturas de José Ivacy, nos mesmos tons em branco e marrom dos “resquícios arqueológicos” de Noronha, como se fossem grandes achados do mesmo “sítio”; essas peças, feitas de uma fusão de madeira com concreto, também possuem formas assimétricas e texturas diferentes entre elas. Ivacy ainda apresenta em outra parede três esculturas de madeira pintada, seus formatos languidos apontam para uma natureza em transformação vertical. Seguimos engatinhando entre passado e futuro, explorando dentro e fora da biosfera que conhecemos - dois joelhos pra frente e quatro passinhos pra trás.

Da série histórica Yokos de Bené Fonteles, são apresentadas quatro obras de xerografia e colagem nas quais a imagem de Yoko Ono encontra-se em processo de desfiguração; aqui temos uma das figuras mais populares do século XX em uma especie de movimento gráfico que a torna quase irreconhecível, como se as partículas químicas que a formam entrassem em colisão - como seriam esses quatro mundos com suas respectivas Yokos diferentes da que conhecemos? Mais duas obras de Fonteles estão presentes, são esculturas essencialmente de madeira (em parte queimadas) que misturam materiais encontrados e modificados, também em estado de transição. Próximo a elas, uma instalação inédita de Felipe Seixas, composta por uma sequencia de pequenas esculturas com as bases de pedras que acima misturam minerais e objetos originários de impressoras 3D; no centro dos pequenos totens há um monitor de televisão apoiado na parede imerso em um monte de areia - na tela o video sugere grãos de areia fazendo um caminho oposto à gravidade, um pó dourado em evaporação. A obra contrapõe materiais naturais a componentes tecnológicos e digitais, uma harmonia entre o material e o imaterial, uma amostra de um universo digno de ficção cientifica - ou seria um vislumbre de um universo paralelo?

Nesse mesmo ambiente ao fundo, duas triangulações acontecem simultaneamente em dialogo: em cada uma das três paredes um trabalho de Rodrigo Garcia Dutra da serie In Fieri, cujo titulo vem do latim medieval e se traduz como algo que ainda não esta completamente formado, no estado do vir a ser; as obras são impressões digitais sobre tecido, porem o processo se inicia em pintura e desenho sobre papel, antes de passar pela fotografia, digitalização e impressão. Na parte inferior das imagens um grid se extende por um fundo infinito preto, onde logo acima vemos círculos alaranjados que se assemelham a planetas ou satélites e no centro símbolos geométricos escuros que parecem minérios (diamantes? carvão?) - há uma comunicação encriptada em desenvolvimento entre os três trabalhos, algo que remete tanto à formação elementar no interior da Terra, quanto ao curso natural dos mais longínquos corpos celestes no sistema solar. A segunda triangulação ocorre no chão: Cosmocoreografia, de Daniel Fagus Kairoz, é uma instalação site-specific que forma no espaço um desenho coreográfico feito com 81 kg de sal grosso em uma quina, 16,2kg de grafite em pó na outra e 10,8kg de enxofre ao centro, com uma trilha de pólvora em Y ligando os montes dos três elementos naturais e aludindo à composição da pólvora. A obra será ativada através de ações performáticas em momentos distintos da exposição. Quando acesa, a trilha queima rapidamente, porem, seus efeitos permanecem no ambiente por um tempo considerável e proporcionam uma nova experiência: agora observamos as obras através de uma cortina de fumaça, sentimos o cheiro de queimado e de laboratório químico em toda a galeria... é nesse ato cenográfico que a imersão do espectador na exposição se torna mais latente, adicionando uma camada extra de interpretação e alterando a nossa percepção da mostra. Os dois artistas ainda se encontram novamente em outra parede do salão: Mistério dos Misterios, de Fagus, é um tríptico vertical de telas com pólvora queimada em uma ação durante a montagem da exposição, enquanto Magma, de Garcia Dutra, é uma serie de quatro pequenas pinturas alinhadas horizontalmente dando continuidade à linguagem codificada dos tecidos. O simbolismo das duas pesquisas formam uma encruzilhada entre geociência, alquimia e astronomia.

Em oposição às cores neutras e formas geométricas das telas de Fagus e Garcia Dutra estão duas obras flamejantes de Raquel Nava. A mistura de esmalte, poliuretano, acrílica, purpurina e colagem sobre tela resulta em uma explosão orgânica sem limites claramente definidos entre cores, linhas e substancias - como se as pinturas ainda estivessem frescas, vivas, em formação. Entre elas, a escultura Lingam Mística, feita com casco de tartaruga, casco de caramujo, isopor, biscuit e penas, é apresentada sobre uma base como algo em metamorfose, um elemento ao mesmo tempo familiar e desconhecido que desperta fascínio e repulsa. Duas outras esculturas de Nava com características semelhantes misturando taxidermia e materiais sintéticos provocam a mesma sensação de estranheza: Paisagens distópicas #1 (biscuit, pena de mutum e de carcará, dentes de cavalo, espinho de ouriço, placa de latão, rabo de furão, cristais e ouro de tolo), posicionada no chão próximo à ultima quina do espaço, é como se um ser anômalo surgisse dos resquícios de sal grosso da instalação de Fagus, que enxergamos atravessando a parede e se espalhando pelo chão. A paisagem se torna realmente distópica com as duas esculturas de Seixas que dialogam diretamente com Nava na parede acima, ambas feitas com materiais industriais e naturais (concreto, pedras, água e latão) - temos aqui um cenário de outro planeta, onde as reações químicas parecem imprevisíveis. Já em Duo, a artista constrói um arco preto com duas imitações de cabeças do mesmo cachorro nas pontas em uma coloração de cobre, mais uma excentricidade, agora em conversação com a obra Almas fingem entre nós, de Denise Alves-Rodrigues, logo na entrada da exposição. A fotografia é reproduzida duas vezes, sendo que uma delas é invertida e montada levemente deslocada para baixo ao lado da outra, de forma a se conectarem pelo fluxo criado no centro da imagem, a qual mostra Stanislawa P expelindo ectoplasma em suas sessões de espiritismo na Rússia de 1918, no mesmo ano em que a revolução estourava. Tanto na escultura de Nava quanto na obra de Alves-Rodrigues encontramos um moto-continuo que se perpetua indefinidamente, uma corrente de energia que se retroalimenta num vai e vem sem parar. A segunda obra de Alves-Rodrigues na exposição é a serie de desenhos Astúcia do Lapso, na qual através de uma linguagem abstrata que mescla numerologia, escrita em braile e signos primários, a artista busca a representação da consciência de conversas em que participou, uma tentativa incomum de transcrever uma experiência singular.

Por fim, no centro do espaço, a instalação Memorabília, de Íris Helena: formada por totens de ferro e vidros de porta retratos com restos de fotografias empilhados, a obra trata da transformação do status quo inicial, da ação do tempo sobre as matérias ordinárias do mundo e sobre o apagamento de nossas memórias e sentimentos. No contexto da exposição, a obra alude fisicamente à transformação do carbono de ponta a ponta - as bases escuras e opacas remetem ao carvão, as fotografias se dissolvem no meio como grafite, e os vidros empilhados formam estruturas translúcidas e afiadas como diamantes.

Apesar da aparente complexidade do tema, a intenção é que a exposição fale por si só, que qualquer pessoa - independente da formação ou do conhecimento que tenha - seja capaz de olhar e entender como os trabalhos conversam entre si e com o espaço, para alem da temática proposta; é sobre a formação do mundo que vemos e também do que não vemos; é sobre as possibilidades de mutação das coisas que nos cercam. Seja no âmbito material ou teórico, a mostra propõe diálogos que atravessam disciplinas e áreas de conhecimento, colocando na mesma roda ciências humanas e exatas.

Diamante-Grafite-Carvão

galeria karla osorio, portas vilaseca e sé galeria

ESPAÇO FONTE, são paulo, 2021

fotos: fernando mota

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Espaço Fonte, São Paulo, 06.08.2021 - 07.24.2021

Curated by Fernando Mota

 

Galeria Karla Osorio: Bené Fonteles, José Ivacy, Rodrigo Garcia Dutra

Portas Vilaseca Galeria: Felipe Seixas, Íris Helena, Raquel Nava

Sé Galeria: Brisa Noronha, Daniel Fagus Kairoz, Denise Alves-Rodrigues

 

“There is nothing permanent except change.” – Heraclitus of Ephesus

 

Let us start by considering, roughly simplified, the following mineral progression in nature: diamond – graphite – coal. The first and second are composed solely of single-element atoms, a phenomena derived from carbon allotropy. The arrangements of their distinct molecular structures differentiate one mineral from another – a detail invisible to the naked eye that completely changes the final result and defines the physical states of both. While diamond is an electrical, abrasive insulator, notoriously one of the most rigid and transparent forms on the planet, graphite serves as an electrical conductor and prevails as a natural, opaque, extremely flexible lubricating element. Coal, in turn, is not formed only by carbon: its composition also derives from other chemical elements resulting from the long decomposition of plant residues. The possible variations in the formation of coal, under a certain temperature and pressure, can result in the design of graphite. Hence, indirectly, the mistaken idea arises that the diamond is a “successful” coal. The hypothesis suggested here follows the premise that, starting from carbon, given the necessary natural conditions, we have a constant spectrum of potential between these three elements, a continuum state of transformation of matter; consequently, in the sensorial field, an exponential prism of perceptions of textures, colors and light is opened, or even, alluding to contemporary society, a wide range of form, use and value.

 

Based on this prerogative, the exhibition Diamante-Grafite-Carvão [Diamond-Graphite-Coal] deals with timeless subjects, operating as a study laboratory for an experimental artistic translation of the chemical and geological universe in question. There are nine artists, from three original galleries in three Brazilian states; in the expographic context, works of research and varied languages ​​are presented that draw parallels between them, evoking visual and conceptual metaphors from the existing correlation between the three minerals. The relationship between the artists' works are open to various forms of interpretation: sometimes a more plastic reading linked to materiality, aesthetics and training; sometimes related to the arrangement of the pieces in space and the dialogue present between them, it being possible to verve both to a more abstract side, entering a broad and impermanent field of ideas, as to a physical and sensorial analysis. In both cases, it is an exhibition in constant transformation.

 

We can read the exhibition, feel it, and/or imagine it. The first route brings the technical information of the works as the main support for approaching the content: what materials are the works made of, where they came from, how they behave and what is behind each of their research. The second way is a bet on natural instinct and human senses: we visualize the works in space and supposedly know the materials that form them, their physical characteristics, we know instinctively how they are known by touch, the sounds and even the smells they propagate. The third way is through the cognitive and creative capacity of each one: how those works communicate with each other and with the space, what are the signs that we encounter repeatedly, and more importantly, what is present even while, in practice, being absent. That being said, let's go hiking, be it on any of these trails…

 

Some pieces are antagonistic in their own composition. The two works by Brisa Noronha have this characteristic: Arqueologia sintrópica [Syntropic Archeology] is a series of small irregular physical shapes made of a mixture of plaster, earth and copper dust, carefully aligned on a table, like objects rescued from some excavation, or even the remains of asteroids fallen to the earth's surface; Lasquinhas [Little Splinters] brings another Cartesian organization of organic forms, but this time directly on the wall, each one of more than a hundred “splinters” of porcelain and colored graphite hanging from a nail, in a subtle chromatic sequence. In both we have a group of small fragile structures forming a larger one, angular and imposing in space. An attempt to order and categorize a microsphere of universal chaos. On the wall next to the table there are four sculptures by José Ivacy, in the same white and brown tones as the “archaeological remains” of Noronha, as if they were great finds from the same “site”; these pieces, made of a fusion of wood and concrete, also have asymmetrical shapes and different textures between them. Ivacy still has three painted wooden sculptures on another wall, and their languid shapes point to a nature in vertical transformation. We continue crawling between past and future, exploring the inside and outside of the biosphere we know – two knees forward and four steps back.

 

From the historical series Yokos by Bené Fonteles, four works of xerography and collage are presented in which the image of Yoko Ono is in the process of being disfigured; here we have one of the most popular figures of the 20th century in a kind of graphic motion that makes her almost unrecognizable, as if the chemical particles that make her up are in collision ­– what would these four worlds look like, with their respective Yokos that are different from the one we know? Two more works by Fonteles are present: they are essentially wooden sculptures (partly burned) that mix found and modified materials, also in a state of transition. Next to them, an unprecedented installation by Felipe Seixas, composed of a sequence of small sculptures with stone bases that mix minerals and objects originating from 3D printers; in the center of the small totems there is a television monitor leaning against the wall and immersed in a pile of sand – on the screen the video suggests grains of sand tracing a path in opposition to gravity, a golden powder in evaporation. The work contrasts natural materials with technological and digital components, a harmony between the material and the immaterial, a sample of a universe worthy of science fiction – or is it rather a glimpse into a parallel universe?

 

In the background of this same environment, two triangulations take place in simultaneous dialogue: on each of the three walls, a work by Rodrigo Garcia Dutra from the series In Fieri, whose title stems from medieval Latin and translates as something that is not yet fully formed, in the state of coming into being; the works are digital prints on fabric, but the process begins with painting and drawing on paper, before going through photography, scanning and printing. At the bottom of the images a grid extends over an infinite black background, where just above we see orange circles that resemble planets or satellites, and in the center dark geometric symbols that look like ores (diamonds? coal?). There is an encrypted communication developing between the three works, something that refers both to the elementary formation inside the Earth, as to the natural course of the most distant celestial bodies in the solar system. The second triangulation takes place on the floor: Cosmocoreografia [Cosmochoreography], by Daniel Fagus Kairoz, is a site-specific installation that forms a choreographic design in space made of 81kg of coarse salt in one corner, 16.2kg of powdered graphite in the other and 10,8kg of sulfur in the center, with a Y-shaped gunpowder trail connecting the mounds of the three natural elements and alluding to the composition of the gunpowder. The work will be activated through performance actions at different times of the exhibition. When lit, the soundtrack burns quickly, however its effects linger in the environment for a considerable time and provide a new experience: now we can observe the works through a smokescreen, we can smell the burning and chemical laboratory throughout the gallery… it's during this scenographic act that the spectator's immersion in the exhibition becomes more latent, adding an extra layer of interpretation and altering our perception of the show. Both artists meet again on another wall of the hall: Mistério dos mistérios [Mystery of Mysteries], by Fagus, is a vertical triptych of canvases with gunpowder burned in an action during the assembly of the exhibition, while Magma, by Garcia Dutra, is a series of four small paintings aligned horizontally, continuing the coded language of the fabrics. The symbolism of the two surveys form a crossroads between geoscience, alchemy and astronomy.

 

In opposition to the neutral colors and geometric shapes of the canvases by Fagus and Garcia Dutra are two flaming works by Raquel Nava. The mixture of enamel, polyurethane, acrylic, glitter and collage on canvas results in an organic explosion without clearly defined boundaries between colors, lines and substances – as if the paintings were still fresh, alive, in formation. Among them, the Lingam mística [Mystical Lingam] sculpture, made with tortoiseshell, snail shell, styrofoam, cold porcelain clay and feathers, is presented on a base as something in metamorphosis, an element at once familiar and unknown that arouses fascination and repulsion. Two other sculptures by Nava with similar characteristics, mixing taxidermy and synthetic materials, provoke the same sensation of strangeness: Paisagens distópicas #1 [Dystopian Landscapes #1] (cold porcelain clay, curassow and caracara feather, horse teeth, hedgehog thorn, brass plate, ferret tail, crystals and fool's gold), positioned on the floor near the last corner of the space, it's as if an anomalous being emerged from the remnants of coarse salt from Fagus' installation, which we see crossing the wall and spreading across the floor. The landscape becomes really dystopian with the two sculptures by Seixas that dialogue directly with Nava on the wall above, both made with industrial and natural materials (concrete, stones, water and brass) – we have here a scenario from another planet, where chemical reactions seem unpredictable. In Duo, the artist builds a black arc with two copper-color imitation heads of the same dog at the extremities, yet another eccentricity, now in conversation with the work Almas fingem entre nós [Souls Lie Between Us], by Denise Alves-Rodrigues, right at the entrance of the exhibition. The photograph has two reproductions, one of which is inverted and mounted in a slightly shifted angle downwards next to the other, so that they are connected by the flow created in the center of the image, which shows Stanislawa P. expelling ectoplasm in her séances in Russia 1918, the same year the revolution broke out. Both in Nava's sculpture and in Alves-Rodrigues' work we find a continuous cycle that perpetuates itself indefinitely, a current of energy that feeds back in a non-stop coming and going. The second work by Alves-Rodrigues in the exhibition is the series of drawings Astúcia do Lapso [Cunning of Lapse], in which, through an abstract language that mixes numerology, writing in Braille and primary signs, the artist seeks to represent the consciousness of conversations in which she participated, an unusual attempt to transcribe a singular experience.

 

Finally, in the center of the space, the installation Memorabilia, by Íris Helena: formed by iron totems, the glass from picture frames and piled up remains of photographs, the work deals with the transformation of the initial status quo, with the action of time on ordinary materials of the world and the erasure of our memories and feelings. In the context of the exhibition, the work physically alludes to the transformation of carbon from end to end – the dark and opaque bases refer to charcoal, the photographs dissolve in the medium like graphite, and the stacked glass forms a translucent and sharp structure, like diamonds.

 

Despite the apparent complexity of the subject, the intention is for the exhibition to speak for itself, for anyone – regardless of training or knowledge – to be able to look at and understand how the works speak to each other and to the space, beyond the proposed theme; it is about the formation of the world we see and also of the one we don't see; it is about the possibilities of mutation of things that surround us. Whether in the material or theoretical scope, the exhibition proposes dialogues that traverse disciplines and areas of knowledge, placing humanities and exact sciences in the same circle.

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